domingo, 26 de abril de 2009

Schizophrénie

Hoje aconteceu algo muito estranho, Doutor... Todos os pensamentos fugiram da minha cabeça. É! Fugiram... E eu não sei para onde. Tá tudo tão oco, tão vazio, tão eco. Trás de volta Doutor, todos aqueles pensamentos que se fazem imagem. Trás de volta as cores que fazem rir meus olhos e chorar minha boca. A negritude ecoa somente a palavra ILUSÃO, dentro da minha cabeça, fazendo um clarão que me doem os ouvidos com o zunido que vem da luz.

Cadê aquele pensamento sorvete que me deixa toda derretida?! Estou me sentindo tão parede, nesse estado. Até parece que meus pensamentos estão brincando de esconde-esconde dentro de mim, e quando procuro vem a maldita palavra ILUSÃO atordoar minha busca e me fazer esquecer o que eu já nem lembrava. Isso tem cura Doutor? Pinga em mim aquelas gotinhas que fazem formigar o céu da boca e criar arco-íris no vazio da minha cabeça.

Tá tudo tão oco, tão eco...


Será que vai ser assim para sempre? Meus pensamentos dizem para mim o que sou. Quando passavam tão carros ou cheiravam tão flores, eu via... via sim Doutor, nessa janela que tenho aqui na frente, nessa janela que tem outra janela tão óculos. Os pensamentos corriam nela e eu como um videotape, tentava pausar aquele que me deixava tão gente. Mas não Doutor... Eles teimavam em continuar correndo, me fazendo tão poeira.

O escuro é tão grande Doutor, que tô me sentindo já, tão abismo. Não sei se pulo... Preciso deixar de estar tão eco...

Agora está doendo Doutor, tá doendo bem no meio da minha cabeça, lá no centro. Dor de colméia sendo feita por abelhas. Acho que é esse maldito instante-já Doutor, brincanco com os meus eternos intervalos. É! Tem um intervalo tão oco, tão vazio e tão eco, aqui dentro de mim.

Me diz Doutor, isso tem cura? Diz Doutor... Tô com tanto medo...





(escrito na madrugada de quarta em um quarto de hospital enquanto vigiava o sono de minha vó, pós-operada)

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